Adaptação à mudança do clima ganha espaço na COP23

Conferência que anteriormente enfatizava a redução na emissão de gases-estufa passa a incorporar debates sobre como o mundo pode se adaptar à crise climática

Após anúncios recentes da nova edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) de que as emissões de gases de efeito estufa no Brasil subiram 8,9% em 2016, em comparação a 2015, e que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera global aumentou no último ano até atingir níveis recordes, a 23ª Sessão da Conferência das Partes (COP 23) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima inicia na próxima semana para discutir justamente essas e outras ações que intensificam o aquecimento global. O encontro, realizado na cidade de Bonn, na Alemanha, entre os dias 6 e 17 de novembro terá representantes de cerca de 200 países e deve receber mais de 20 mil pessoas. Neste ano, a presidência da COP 23 é ocupada por Fiji, primeiro estado insular a liderar as negociações.

Um ponto que deve ser discutido é o anúncio da intenção de saída dos Estados Unidos (EUA) do Acordo de Paris em junho deste ano. “Na última COP, Donald Trump havia anunciado, durante sua candidatura, que não cumpriria o acordo se fosse eleito, o que se concretizou neste ano. Por isso, acreditamos que esse será um dos assuntos que irá entrar na pauta da COP 23” avalia André Ferretti, gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima. Ele lembra que a quantidade e intensidade dos furacões registrados em 2017 está acima da média, sendo que o aquecimento global tem relação direta com isso; foram sete no total e a grande maioria atingindo os EUA, o que reforça ainda mais a problemática saída do País do acordo. “Também vale ressaltar que 2017 deverá ficar entre os três anos mais quentes desde que se começou a registrar a temperatura terrestre, em 1880. As três primeiras posições devem ser ocupadas por 2016,  2015 e 2017, sendo que é preciso aguardar o fim deste ano para saber a classificação final”, complemente André.
O Acordo de Paris foi aprovado por 195 países na COP21, em 2015, com o objetivo limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C. No entanto, de acordo com os últimos dados que vêm sendo divulgados, o cenário não é animador. Para que esse limiar de aumento de temperatura não seja ultrapassado, governos de cada país envolvido firmaram seus próprios compromissos a partir das chamadas Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). Por meio das INDCs, cada nação apresentou sua contribuição de redução de emissões dos gases de efeito estufa, levando em consideração o cenário social e econômico local.
No Brasil a meta é que as emissões de gases de efeito estufa diminuam em 37% até 2025 e em 43% até 2030, em relação ao ano de 2005. “Para que isso se cumpra deveríamos ter começado no ano passado a recuperar 12 milhões de hectares de florestas, além de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. De acordo com dados que temos visto, como o aumento de 8,9% dos gases de efeito estufa no Brasil de 2015 para 2016, por exemplo, é possível prever que cumprir o Acordo de Paris exige esforços sem precedentes. Somente no Brasil, para atingir essa meta será necessário zerar o desmatamento por completo, seja ele legal ou ilegal. Por isso, temos que começar a pensar em como podemos nos adaptar à realidade que estamos vivendo”, analisa Carlos Rittl, membro Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e secretário-executivo do Observatório do Clima.
Neste ano, a COP23 não trará novos acordos, mas servirá para que sejam feitas regulamentações do Acordo de Paris, como definições de políticas e medidas que irão, de fato, resultar em redução de emissões. Outro assunto que poderá surgir será o “Relatório Especial 1,5°C”, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), que será publicado em 2018, mas que pode ter algumas informações discutidas nesta edição da COP, como, por exemplo, quais áreas do globo serão mais afetadas e quais as que emitem mais gases. Para tratar desses assuntos, diversos eventos foram preparados para abordar temas que tratam, principalmente, de adaptação à mudança do clima.
Apresentação da COP23
Dividida em dois momentos estratégicos, a Conferência das Partes conta uma atuação diplomática e técnica na primeira semana, focando em discussões e debates entre os países. A segunda semana é mais voltada à tomada de decisões, quando ministros e presidentes votam as principais decisões discutidas na semana anterior.
A presença de empresas e Organizações não Governamentais (ONGs) também estão previstas neste ano, como é o caso da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que participará ativamente de quatro eventos, além de atuar como observadora em outros. Uma das suas principais participações será no side event “Can Nature be a Solution for climate change adaptation and increasing resilience?”, marcado para  o dia 14 de novembro, às 15h, em parceria com outras instituições (European Commission, IEFE- Bocconi University, Durham University, SPVS, UNDP Tunisia e World Bank). O evento tem como objetivo discutir o papel dos serviços ecossistêmicos na adaptação, os impactos da mudança climática e os riscos de desastres associados, com base em estudos de casos bem-sucedidos e de medidas e políticas implementadas em áreas rurais e urbanas no Brasil, na Europa e na África. “Poder realizar esse evento é uma grande oportunidade para nós. No total foram 800 side events inscritos para 200 vagas, das quais fomos escolhidos para apresentar nosso trabalho”, comemora Juliana Ribeiro, analista de projetos ambientais da Fundação Grupo Boticário.
A instituição também participa, no dia 9 de novembro à tarde, do painel sobre Adaptação no Espaço Brasil, realizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e que tratará do tema  Soluções baseadas na Natureza para adaptação à mudança do clima, com o painel “A Natureza como Solução para a crise climática”. A proposta será discutir o papel das áreas naturais preservadas na adaptação à mudança do clima no Brasil, e como soluções baseadas na natureza podem ser importantes como parte da estratégia de adaptação nacional. O formato das participações será por meio de palestras e debates, nas quais a Fundação irá falar sobre os resultados da “Chamada de casos de Soluções Baseadas na Natureza”, ação que resultou no primeiro registro de casos de sucesso sobre o uso dessas soluções a serem desenvolvidas para tomadores de decisão brasileiros, nos setores público e privado.
Além disso, a plataforma Adaptaclima – ferramenta criada pelo GVces em parceria com o MMA e um grupo de atores-chave para sistematizar e disponibilizar informações e materiais sobre adaptação à mudança do clima – será apresentada aos participantes. O objetivo é envolver o setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil nessa agenda.
André Ferretti estará presente em outro evento, marcado para o dia 14 de novembro, às 9:30 h,  representando a Fundação Grupo Boticário junto com organizações como o Observatório do Clima (OC); Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON); e Rainforest Alliance.  O encontro também será no Espaço Brasil e terá como objetivo discutir os impactos políticos sobre o uso da terra e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, com base em: dados gerados por robustas plataformas de monitoramento, estratégias para o desenvolvimento sustentável da Amazônia e ferramentas para medir o progresso do cumprimento de compromissos do setor privado com cadeias produtivas livres de desmatamentos. Desenvolvidas por organizações não-governamentais brasileiras, essas plataformas também têm ajudado no desenvolvimento de estimativas de GEE em outros países, como Peru e Índia.
Outro evento que terá a participação de André Ferretti será o “Estratégias empresariais de adaptação à mudança do clima – desenvolvimento de oportunidades de negócios, organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), em 15 de novembro às 9:30 h. Na oportunidade, serão apresentadas ações de empresas – como o Grupo Boticário – relacionadas à adaptação à mudança do clima.

 

Sobre a Fundação Grupo Boticário

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.528 projetos de 501 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país.  Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.brwww.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.

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