Artigo: 2017/2018: o Biênio da Matemática no Brasil

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Jacir Venturi*

Na Olimpíada Internacional da Matemática realizada no ano passado, em Hong Kong, dos 10 países com melhor desempenho, 7 são asiáticos. Um diretor de escola do Brasil, presente na premiação, perguntou ao chairman do evento:
– Qual o segredo de tão retumbante sucesso dos asiáticos? Resposta: nossas professoras primárias são apaixonadas por matemática.
Quase toda a criança de 4 a 6 anos tem apreço e paixão por jogos lúdicos e criativos de raciocínio lógico, desde que apropriados à idade. Entretanto, no Brasil, a maioria das professoras do Fundamental I pouco estimulam essas habilidades e até se escusam dizendo: “ah, nunca gostei de matemática, por isso fiz pedagogia”.
Nesse mister, como estímulo à matemática no Brasil, e por força da Lei 13.358/16, foi consagrado o Biênio da Matemática em 2017/2018, durante o qual os dois maiores eventos mundiais da matemática acontecerão no Brasil e pela primeira vez: a Olimpíada Internacional de Matemática (de 12 a 23 de julho/17, no Rio de Janeiro), com a participação de cerca de 120 países, e o Congresso Internacional de Matemáticos (de 1 a 9 de agosto/18, também no Rio de Janeiro), com a presença prevista de seis mil matemáticos oriundos de mais de uma centena de nações.
Ademais, nesse biênio serão realizados eventos relevantes como festivais, palestras e, com destaque, as Olimpíadas Estaduais e Brasileira de Matemática, com previsão de 18 milhões de alunos participantes – do Ensino Fundamental II e Médio (indispensável a inscrição pelo site www.obmep.org.br até 31 de março). Todo o discente deve ser estimulado a participar, pois as provas – além dos conteúdos clássicos – priorizam o raciocínio, a criatividade e têm o escopo de desenvolver um ambiente e cultura de amor pela rainha e serva de todas as ciências. Serva, pois não há ciência sem o rigor de seus fundamentos, e rainha, pois sua majestade enseja o apanágio da lógica e da estética, numa linguagem precisa, universal e sincopada.
Bem verdade que também é considerada uma ciência sinistra, abstrata, provocadora das maiores humilhações e é sobejamente conhecido o nosso baixo desempenho nas avaliações nessa disciplina. Nas provas internacionais do PISA, sempre pontuamos entre os seis últimos em matemática (atualmente participam 72 nações). Ademais, um estudo feito nas seis edições de 2009 a 2014 das provas de matemática do Enem demonstra que o índice de acertos é aquém do razoável – apenas 29%.
Em contrapartida, nosso posicionamento a cada ano na Olimpíada Internacional da Matemática, via de regra, fica entre a 12ª e a 19ª colocação entre 110 países participantes. E, com apenas 16 anos, o brasileiro Artur Ávila ganhou a Medalha de Ouro e em 2014 ganhou a Medalha Fields – equivalente ao Nobel de Matemática. Ou seja, formamos talentos, porém em escala ínfima. Pelo menos parte da grande massa de alunos – a parte submersa desse iceberg – ainda precisa emergir.
Pode-se melhor compreender a relevância dessa disciplina por meio de uma pesquisa de 2010, encomendada pelo Conselho de Engenharia e Ciências da Inglaterra (EPSRC), para avaliar o impacto da matemática na economia do país: interfere com o percentual de 16% do PIB e gera cerca de 10% dos empregos. Tal pesquisa também foi aplicada na Holanda, França e Austrália, e os resultados são similares. Ademais, é fácil reconhecer que a matemática está amiúde presente na engenharia, computação, novas tecnologias, segurança militar, finanças, gestão pública, indústria, pesquisa, etc.
Diante do exposto, o pensador francês Jacques Chapellon se faz oportuno: “Existe um paralelismo fiel entre o progresso e a atividade matemática. Os países socialmente atrasados são aqueles em que a atividade matemática é nula ou quase nula”.
*Jacir Venturi, coordenador do Biênio da Matemática pelo Sinepe/PR e coordenador da Universidade Positivo, foi professor de matemática de universidades e escolas públicas e privadas.

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