Artigo: A cidade e seus (calmos) limites

Maria da Graça Rodrigues Santos, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo (UP)

A decisão de estabelecer limites de velocidade para circulação de veículos nas cidades, tem mobilizado diversos setores da sociedade nas principais capitais brasileiras e Curitiba não é uma exceção.
Começando pela via calma, com redução de velocidade nos eixos estruturais, de modo a compartilhar as vias com as bicicletas e mais recentemente criando a via calma na área central, a Prefeitura daqui compartilha iniciativas como a da Prefeitura de São Paulo, que estabeleceu limites de velocidade de 50km/h em vias de grande porte e grande circulação diária.
Aqui como acolá as ideias se dividem entre aqueles que aprovam e aplaudem as iniciativas e os que se colocam frontalmente contra, posições muitas vezes associadas a questões político-partidárias. Se mudarmos de foco e pensarmos nestas ações na perspectiva da própria vida nas cidades, a questão já não se apresenta de forma tão definitiva.
Alguns dirão que diferente disto estaremos em cima do muro, o que é sempre muito ruim. Proponho aqui que não haja muro, de modo que possamos enxergar os fatos sobre perspectivas diversas.
Para provocar a reflexão é possível abordar dois aspectos da questão, torcendo para que hajam outros, que auxiliem tanto na tomada de decisões por parte dos governantes, quanto nas nossas avaliações: o aspecto da cidadania na cidade contemporânea e o aspecto relativo à atualidade do fato.
No primeiro caso, devemos levar em conta que as cidades mudam. As cidades crescem, se tornam mais complexas e nossas atitudes como cidadãos deveriam acompanhar estas mudanças e expressar o novo momento. Para exemplificar, pensemos na maioria das cidades do interior do Brasil até três décadas atrás, quando podíamos parar o carro no meio da rua para cumprimentar conhecidos, ou estacioná-lo na calçada, sem que isso provocasse impactos na mobilidade urbana. Aliás, mobilidade urbana é uma preocupação e um conceito contemporâneo.
Naquele momento existiam poucos veículos e as nossas individualidades não interferiam de forma significativa na vida dos demais moradores de uma cidade. Na medida que as cidades cresceram, que aumentou o número de veículos nas ruas, já não é possível estacionar aonde é mais conveniente. Temos que obedecer a regras que o poder público define, para manter o grau de fluidez do trânsito. Se individualmente houve uma perda de espaço no ambiente urbano, coletivamente houve ganho na preservação da qualidade desse espaço para todos os demais, quer sejam motoristas ou pedestres.
Em Curitiba, ultrapassamos a barreira da crítica quando se trata da regulamentação do estacionamento na via pública e nesse ponto somos pioneiros e exemplo para o Brasil.
Sobre velocidade? Bem, aí entra o outro aspecto que vale a pena abordar. Diz respeito à atualidade do fato, mas também à consciência dos moradores de uma cidade sobre benefícios coletivos.
Quando olhamos outras cidades no mundo em fotos, ou mesmo quando as visitamos, passeando como turistas, às vezes pedalando, temos a visão errônea da aceitação pacífica da bicicleta, por exemplo, e do convívio idílico dos diferentes modais no ambiente urbano, preocupação de todos que estudam ou fazem gestão urbana. Mas antes de nos posicionarmos a respeito, devemos conhecer o processo de construção dessa aceitação e o grau de conscientização que uma e outra cidade tem sobre o benefício do convívio. Isto vale para aqueles que propõem as mudanças, para entenderem que um simples ato administrativo não consegue transformar nossas vidas e mudar nossos hábitos cotidianos. Por outro lado, da nossa parte, como moradores da cidade contemporânea, também não é possível mantermos as mesmas atitudes de décadas atrás, quando o carro nos garantia a livre circulação pela cidade. Hoje o trânsito não permite grandes velocidades na maior parte do dia, mas registra atitudes de alguns, que esquecem onde estão e transitam com o automóvel como se fossem protagonistas de comercial de veículos.

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