Fake news: publicação alemã critica imprensa brasileira

Artigo publicado no Scientific Reports é questionado pelos próprios autores e imprensa brasileira replica informações sem questionar, gerando pânico na população

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FIM DE UM “ESCÂNDALO” DE ENGENHARIA GENÉTICA é o título da reportagem da publicação alemã salonkolumnisten desta sexta-feira, 27 de setembro. A matéria se refere a um artigo publicado no Scientific Reports no dia 10 de setembro, sobre mosquitos transgênicos que, da forma como foi escrito, insinua que a mistura entre os dois tipos de mosquitos pode ter gerado uma espécie de super-inseto transmissor de doenças. 

O artigo, considerado grosseiro e unilateral pela publicação alemã, levou a manchetes alarmantes na imprensa brasileira, como “Mosquitos transgênicos estão se reproduzindo no Brasil”; “Irresponsabilidade da CTNBio produz ‘super mosquito’ da dengue”; “Mosquitos transgênicos foram soltos sem controle na região”; “Tentativa de controlar Aedes pode ter criado “supermosquito” transgênico”. A questão é que seis dos oito autores do artigo em questão reivindicaram a retirada da publicação no Scientific Reports por não estarem envolvidos na versão final e não o aprovaram. Segundo eles, o texto publicado não corresponderia aos resultados apresentados por eles, nem ao texto original do manuscrito.

O co-autor Paulo Andrade, professor da Universidade de Pernambuco, disse à revista Questão de Ciência, do Instituto Questão de Ciência (IQC), que o artigo publicado no Scientific Reports era irresponsavelmente especulativo sobre os riscos delineados e com uso de “linguagem alarmista”. Manchetes como “Super mosquitos da dengue na Bahia”, “Filhos de mosquitos transgênicos não morrem”, “No Brasil, os mosquitos transgênicos se multiplicam” e “Mudanças genéticas são transmitidas” são, portanto, enganosas, garante a publicação alemã, que provoca diretamente os veículos alemães Tagesschau e Deutsche Welle a se pronunciarem sobre reportagens alarmantes que divulgam o referido artigo como verdade absoluta.

O grupo brasileiro de autores agora exige a retirada do artigo publicado no Scientific Report e pretende publicar os dados em outra revista sem o envolvimento do pesquisador norte-americano Jeffrey Powell. Autorizada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a pesquisa a qual o artigo se refere não produziu nenhum efeito colateral negativo, ao contrário do que sugerem informações equivocadas, que acabaram sendo divulgadas na imprensa. O primeiro jornalista brasileiro a questionar o artigo foi o colunista Cesar Baima, em sua coluna na versão digital da revista Época. Segundo Baima, “…o estudo é uma sequência de erros e especulações que respectivamente não identificados e mal interpretadas deflagraram uma onda de notícias falsas e desinformação nas redes sociais que está gerando pânico entre alguns brasileiros, com afirmações de que os testes de campo produziram um “ supermosquito ” transgênico resistente a inseticidas e capaz de transmitir mais facilmente as doenças do Aedes”.

Para a pesquisadora Margareth Capurro, professora do Instituto de Ciencias Biomédias (ICB) da USP e coautora do artigo em questão, faltou uma frase crucial no texto publicado pela Scientific Reportsnão existem mosquitos transgênicos no céu da Bahia! Segundo ela, também faltou dizer que eventuais mosquitos híbridos encontrados hoje, na cidade baiana de Jacobina, não representam nenhum perigo para a população, não transmitem mais doenças do que os mosquitos comuns e não são resistentes a inseticidas.

O transgênico foi liberado na região entre 2013 e 2015, em experimento de campo realizado pela empresa britânica Oxitec e aprovado pela CTNbio, que atestou a segurança e eficácia do procedimento com base em trabalhos assinados pelos autores brasileiros . O experimento foi considerado um sucesso, reduzindo a população de mosquitos locais em 95% durante sua duração. Com o fim da liberação dos insetos geneticamente modificados, houve retomada da população – o que também era esperado.

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