Por Liliani Rosa, professora da disciplina Oficina de Leitura, Redação e Literatura, do Colégio Positivo Júnior
No final do século XX, quando as editoras lançaram os livros digitais, surgiram especulações e discussões sobre o destino do livro impresso. Segundo a Nielsen BookScan, em países como EUA e Reino Unido a versão em papel ainda ganha da digital, e o público de maior interesse é o adolescente. Agora, a discussão gira em torno do fim da escrita manual. Algumas escolas norte-americanas adotaram a escrita digital e a letra de forma como obrigatórias, abolindo o ensino da letra cursiva do currículo. Apesar de radical, esse modelo é coerente com a realidade, uma vez que a comunicação entre as pessoas está cada dia mais virtual, fazendo com que a substituição da escrita cursiva pela digital seja inevitável. O que não significa a extinção da escrita à mão – e a própria tecnologia contribui para mantê-la viva. Um exemplo são os novos aparelhos celulares e Smartphones que permitem escrever à mão livre na tela e até transformam desenhos em linguagens verbais, o que parece fantástico para o universo da linguagem.
A necessidade por otimizar o tempo e facilitar as práticas cotidianas fez com que os hábitos mudassem. Quando escrever à mão era a única opção, o exercício era agradável. Com o surgimento das ferramentas de texto digital, a prática de escrever manualmente tornou-se questionável e a sala de aula é onde mais aparecem esses questionamentos. Na hora de escrever, os alunos querem pular etapas, como a produção do rascunho, por exemplo. Reclamam de realizar exercícios diários como copiar no caderno, elaborar respostas, fazer anotações e, mesmo sabendo da resposta negativa, não deixam de perguntar “posso tirar uma foto do quadro, professora?”. Por conta disso, o trabalho do professor de Produção de Texto e Língua Portuguesa torna-se mais difícil. Convencer o aluno da importância da escrita manual é uma tarefa quase impossível, pois os argumentos contrários parecem mais satisfatórios para os estudantes.
O fato é que o texto produzido em formato digital não diminui a qualidade produtiva do aluno, uma vez que é possível avaliar, mesmo no texto digitado, se o aluno foi coeso e coerente, e se utilizou as características do gênero textual exigido. Nesse caso, o que muda é o suporte e não a função do texto. É essencial que o aluno saiba se expressar verbalmente de forma coerente. Já o uso correto da ortografia dependerá do repertório de leitura e da prática textual do estudante, seja ela manual ou digital. Além disso, mesmo que a ferramenta corrija os erros ortográficos, ainda (ainda!) não pode corrigir o conteúdo, que é um dos critérios de correção de maior peso cobrado nas redações para os vestibulares.
A escola precisa oferecer um leque de possibilidades para o aluno e um ambiente para que ele possa desenvolver o maior número de habilidades possíveis e escolher, de acordo com suas necessidades, qual delas utilizar. Abolir a letra cursiva do currículo é limitar as possibilidades do aluno, assim como insistir em utilizar somente uma escrita impede que ele domine outras formas. O importante é que o estudante possa praticar a escrita de diversos gêneros textuais e conheça suportes diferentes para o texto. Portanto, é dever da escola ensinar a escrita cursiva, assim como a utilizar as ferramentas digitais.