Artigo: Cajamarca e a origem do atraso

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Por José Pio Martins, economista e reitor da Universidade Positivo

No dia 16 de novembro de 1532, o conquistador espanhol Francisco Pizarro, liderando um grupo de 168 soldados esfarrapados e sem conhecer o terreno, adentra a cidade de Cajamarca, nas montanhas do Peru, e trava intensa batalha contra o exército de 80 mil homens do imperador inca Ataualpa. O que parecia impossível aconteceu: na batalha, 168 espanhóis aniquilaram um exército de 80 mil índios, sem perder um único espanhol. Nesse episódio está parte da explicação de por que a Europa dominou a América, e não o contrário.
Embora com apenas um soldado espanhol para cada 476 guerreiros nativos, Pizarro venceu os inimigos, capturou o grande líder Ataualpa e subjugou a região. Como isso foi possível é a questão. A superioridade militar de Pizarro estava nas espadas de aço, nos cavalos, nas armaduras metálicas e em outras armas, enquanto as tropas de Ataualpa nem sequer tinham domesticado o cavalo, lutavam a pé, com pedras, tacapes de madeira, machados, bodoques e panos acolchoados como armaduras.
A tragédia de Cajamarca, em que um líder, quase um deus, é abatido junto com seu exército de 80 mil soldados por um conquistador espanhol à frente de menos de 200 soldados esfarrapados e cansados, deixa uma lição essencial: o que faz a diferença é a tecnologia e o capital físico. Se os governantes da América do Sul tivessem entendido isso há três séculos, talvez esta parte do mundo já teria superado a pobreza e o atraso econômico e social.
O Brasil, ainda que sentado sobre imensas riquezas naturais, somente sairá do estado de miséria e subdesenvolvimento quando conseguir aumentar substancialmente o capital físico e ampliar em muito o conhecimento tecnológico. Sem isso, mesmo que todas as ideologias e todos os partidos um dia cheguem ao poder, a pobreza não será superada, pode apenas mudar de face.
Não nos iludamos. O Bolsa Família, conquanto útil e necessário, é um programa que distribui apenas R$ 29 bilhões/ano a 13,9 milhões de famílias. Isso é menos que 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e serve para mitigar a fome momentânea de alguns, mas está longe de ser receita de sucesso. O que essas pessoas precisam é de educação, treinamento e oportunidade de trabalho. O Bolsa Família não tira ninguém da pobreza nem deve ser um ideal de vida dos pobres.
O Brasil está atualmente com 12 milhões de desempregados. Quando a economia melhorar, essas pessoas poderão voltar ao mercado de trabalho, mas irão trabalhar com baixo nível tecnológico e sobre uma estrutura de capital físico insuficiente e envelhecida, tanto na infraestrutura física (transportes, portos, aeroportos, energia) quanto na infraestrutura empresarial (máquinas, equipamentos, fábricas, prédios e empresas) e na infraestrutura social (escolas, hospitais, postos de saúde, instituições de assistência).
A origem do atraso é conhecida e a receita de superação também, e é estúpido brigar com os países desenvolvidos e se isolar. O Brasil precisa importar urgentemente tecnologias e máquinas inventadas no resto do mundo, pois a posse de capital físico e o domínio da tecnologia fazem a diferença há muito. O episódio de Cajamarca é apenas um exemplo do quanto isso é verdade. A receita é a inserção internacional, a interdependência e a cooperação. O protecionismo e o nacionalismo são doenças do atraso, são ideologias ultrapassadas contra os interesses nacionais.

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