Artigo: A descotização da Eletrobras

Leide Albergoni*

 

A maior empresa de geração e distribuição de energia elétrica do país, a Eletrobras, amarga prejuízos nos últimos anos em função da política energética conduzida pelo governo Dilma a partir de 2012 e da gestão deficiente realizada por indicados políticos, nem sempre tecnicamente competentes.
O setor energético representa um gargalo ao crescimento econômico, tendo em vista que mesmo nos anos de crise corre-se o risco de racionamento de energia. A população arcou com as bandeiras tarifárias resultantes da falta de investimento no setor devido à falta de atratividade de retorno e da estratégia de produção energética baseada em usinas térmicas.
Um dos gestores de uma companhia elétrica justificou o risco de racionamento pela intensificação do uso de produtos eletrônicos, resultando no aumento da demanda por energia. Tal gestor provavelmente não entendeu que um dos impactos econômicos do desenvolvimento econômico é o aumento do consumo energético. Ou seja, por escolhas equivocadas da política energética, os brasileiros estão fadados a viver à luz de velas.
No cenário de retomada do crescimento econômico, o país precisará, mais do que nunca, de investimentos em geração e distribuição de energia. E a maior empresa do setor está de mãos atadas por falta de capitalização, já que as escolhas equivocadas que destruíram o setor energético também ocorreram na política fiscal e resultaram em crise fiscal e incapacidade de realização de investimentos vultosos em infraestrutura. Os argumentos contra a privatização advêm, principalmente, de grupos ligados a movimentos sindicais que querem preservar seus empregos nas empresas estatai,s e de partidos políticos incomodados com a possibilidade de perder a chance de indicar aliados para cargos em grandes empresas. Os resultados das indicações políticas são conhecidos: a confiança baseia-se na capacidade do indicado em contribuir para os esquemas de desvios – e não em competências de gestão.
A privatização da Eletrobras pode ser motivada, neste momento, pela necessidade de fazer caixa para cobrir o déficit fiscal. Mas as razões para a privatização vão muito além: capitalizar a empresa para ampliar os investimentos em mais geração e distribuição, profissionalizar a gestão e reduzir a influência política sobre as indicações e, consequentemente, a oportunidade de esquemas de desvios. Uma gestão realizada por profissionais experientes no setor e com competência para produzir bons resultados terá impactos para os consumidores, que deixarão de arcar com os custos da falta de investimentos, mas também para o governo, que terá aumento de arrecadação e de participação nos resultados.
Participação nos resultados? Ora, mas a Eletrobras não está sendo privatizada? Parcialmente. Atualmente, o governo possui 63% de participação acionária na empresa, juntamente com o BNDES. A proposta é uma descotização, reduzindo a participação acionária para 50%. Ou seja, o risco da perda de influência política é limitado e o regime de contratação de funcionários permanece o mesmo. Ainda assim, causa paixões de grupos contrários à privatização, simplesmente por viés ideológico.
 
*Leide Albergoni é economista, professora da Universidade Positivo (UP) e autora do livro Introdução à Economia – Aplicações no Cotidiano.

Share:

Latest posts

Divulgação Senior Sistemas
Dados sem direção: o novo desperdício do RH moderno
Envato Imagens
Senior Sistemas apresenta nova plataforma de produtividade empresarial com IA
Bia Nauiack
31ª CASACOR Paraná: Espaço inspirado no tema Nem sempre a espera precisa ser vazia pode ser visitado gratuitamente fora da mostra oficial

Sign up for our newsletter

Acompanhe nossas redes

related articles

Divulgação Senior Sistemas
Dados sem direção: o novo desperdício do RH moderno
Por Diego Winagraski Vivemos em uma era na qual os dados são a nova moeda da economia digital. Mas...
Saiba mais >
Envato Imagens
Senior Sistemas apresenta nova plataforma de produtividade empresarial com IA
Com o objetivo de impulsionar os resultados dos negócios por meio da transformação digital e do uso de...
Saiba mais >
Bia Nauiack
31ª CASACOR Paraná: Espaço inspirado no tema Nem sempre a espera precisa ser vazia pode ser visitado gratuitamente fora da mostra oficial
Criado pela arquiteta Roberta Lanza, ambiente está no NH Curitiba The Five, hotel oficial do evento Um lounge que...
Saiba mais >
Divulgação GT Building
Lazer sob medida vira fator decisivo para compra de imóveis de luxo
Pesquisa da Abrainc revela que 62% dos compradores consideram espaços temáticos e experiências personalizadas...
Saiba mais >