Artigo: A mesmice cansativa

[flgallery id=1772 /]

José Pio Martins*

Recentemente, fui convidado a participar de um encontro em São Paulo, com o objetivo de produzir um documento de sugestões aos candidatos à presidência da República. Na abertura, o orador afirmou que o primeiro passo seria fazer um diagnóstico da situação brasileira e, a partir daí, elaborar um plano de soluções. Convidaram-me porque o foco era a economia.
Em dado momento, pedi a palavra e afirmei que fazer diagnóstico econômico do Brasil é fácil. O país se especializou na permanência de uma mesmice cansativa. Os problemas nacionais se repetem com enorme tédio há meio século. Nos anos 1970, os problemas eram a inflação e a dívida externa. Nos anos 1980, os temas mais candentes eram a inflação, a recessão e a moratória da dívida. Nos anos 1990, a hiperinflação e a crise cambial. Na virada do milênio, vencida a inflação, persistiam a dívida externa e a crise cambial.
O tédio da mesmice brasileira já estava presente num irônico diálogo entre Tancredo Neves e o economista Roberto Campos, em setembro de 1961, quando Tancredo, designado primeiro-ministro do governo parlamentarista de João Goulart, pediu ao economista que preparasse um programa de governo a ser enviado ao parlamento para referendo junto com o novo gabinete. Roberto Campos ponderou que não havia tempo para a tarefa, ao que Tancredo respondeu com sua mineirice sarcástica: “Você é useiro e vezeiro em fabricar programas de governo desde os tempos de Getúlio e Juscelino. No Brasil, os problemas não mudam, logo não mudam também as soluções”.
E Tancredo tinha razão. Os problemas herdados do período Juscelino eram a inflação e a crise cambial, que viriam a se repetir nas décadas seguintes. Nos últimos 50 anos, os problemas brasileiros não mudaram, como também não mudaram duas realidades tristes: a pobreza – refletida na baixa renda por habitante – e os crônicos déficits públicos. Qual a explicação para o contraste entre o potencial de riqueza do país e a pobreza do desempenho? Vários são os fatores explicativos, entre eles a incompetência dos países pobres na descoberta dos verdadeiros inimigos.
Os esquerdistas gostam de culpar o neoliberalismo pelas mazelas brasileiras. Isso é uma bobagem; é culpar o inexistente. Os responsáveis por nossa pobreza não são o liberalismo – nem o neo nem o clássico, que nunca existiram por aqui –, nem o capitalismo, por ser mal aplicado e distorcido. Entre os inimigos do desenvolvimento estão os monopólios, com suas ineficiências; o excesso de empresas estatais, que criaram uma nova classe de privilegiados: os burgueses do Estado, verdadeiros capitalistas sem risco; e o elevado grau de estatização da economia e da vida nacional.
Quanto ao neoliberalismo, estudos realizados por organismos internacionais colocam o Brasil como um dos países de menor grau de liberdade econômica e um dos mais fechados do mundo. Segundo a Heritage Foundation, entre 186 países, o Brasil está na posição 153, ou seja, atrás de 152 países em grau de liberdade. Onde está o neoliberalismo? O que temos em verdade são graves resquícios dirigistas, limitação da ação empresarial, um sistema tributário complexo e punitivo, uma legislação trabalhista inibidora da contratação e uma pilha de controles e intervenções.
Um país em que o Estado tem até uma estatal para fabricar camisinhas não pode ser acusado de liberal. Não, não é piada. Agora, neste julho de 2018, acaba de circular a notícia de que “em crise, fábrica estatal de camisinhas naufraga e encerra a produção”. Trata-se da falência da Natex, estatal montada no governo Lula, em 2008, no Estado do Acre, para produção de camisinhas. É o retorno à cultura da estatização dos anos 1970. Isso faz lembrar um trecho do poema de T. S. Elliot nos Quatro Quartetos: “O fim de toda nossa busca será chegar ao lugar onde começamos e ter a sensação de descobri-lo pela primeira vez”.
 
*José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

Share:

Latest posts

Divulgação
Eric Martin e Jeff Scott Soto trazem Double Trouble Tour para capital paranaense em celebração aos 10 anos do Hard Rock Cafe Curitiba
Divulgação GT Building
Peso dos nomes: mercado de luxo investe em personalidades e grifes para valorizar imóveis
Divulgação
Shopping Palladium celebra 17 anos com programação especial e atrações gratuitas

Sign up for our newsletter

Acompanhe nossas redes

related articles

Divulgação
Eric Martin e Jeff Scott Soto trazem Double Trouble Tour para capital paranaense em celebração aos 10 anos do Hard Rock Cafe Curitiba
Artistas se apresentam no dia 17 de maio com show comemorativo Dois ícones do rock mundial, Eric Martin...
Saiba mais >
Divulgação GT Building
Peso dos nomes: mercado de luxo investe em personalidades e grifes para valorizar imóveis
Incorporadoras inovam ao associar empreendimentos a nomes consagrados: GT Building anuncia projetos em...
Saiba mais >
Divulgação
Shopping Palladium celebra 17 anos com programação especial e atrações gratuitas
Atividades ocorrem de 8 a 10 de maio e incluem música ao vivo e oficinas para toda a família Para comemorar...
Saiba mais >
FEIRA-1
Soluções para futuro das cidades serão discutidas no 40° Congresso Mineiro de Municípios
Helper Tecnologia será uma das empresas participantes, demonstrando inovação com seus totens de segurança Nos...
Saiba mais >