Por Flávio Bortolozzi Junior, mestre e doutorando em Direito, professor de Sociologia Jurídica e Criminologia do curso de Direito da Universidade Positivo (UP)
Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais ao longo desta semana foi a “brincadeira” feita por alunos da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo. Caso semelhante aconteceu em 2015, no tradicional Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre. Tratava-se de uma ação organizada pelos alunos do terceiro ano (vestibulandos, portanto), intitulada “se nada der certo”, em que os alunos vestiam-se com fantasias e uniformes de profissões que consideram fracassos: faxineiras, garis, garçons, atendentes do McDonald’s, vendedores e afins.
As críticas viralizaram nas redes sociais. A própria instituição, tentando minimizar o ocorrido, explicou que o objetivo da ação era de “trabalhar o cenário de não aprovação no vestibular”. O caso é preocupante e, talvez, evidencie que nada deu certo mesmo. A escola, enquanto espaço educacional é, em princípio, fundamental na formação de nossas subjetividades. Não somente a difusão do conhecimento técnico-científico, mas também processos de socialização, de (re)conhecimento do Outro devem ocorrer na escola. A percepção que temos sobre o mundo, sobre nós e sobre os demais decorre em boa medida desses processos que nos constituem ao logo da nossa vivência.
Numa sociedade como a nossa, com um passado escravocrata-senhorial mal superado e marcada por desigualdades estruturais abissais, a figura do Outro é muitas vezes construída a partir de um discurso de inferiorização, de exclusão. Os espaços de interação social com o Outro diferente, espaços públicos por excelência, cada vez mais são evitados. O grupo social ao qual pertencem esses alunos muitas vezes vive em espaços privados de pluralidade: condomínio, clube, shopping center etc., em que o diferente não é aceito ou bem-vindo. Um verdadeiro apartheid social brasileiro, uma sociedade de muros e segregação, que pode ser representada sinteticamente numa figura: a do elevador de serviço.
Cada vez mais os critérios sociais identificatórios de pertencimento ao grupo que “deu certo” são definidos por marcas, status e símbolos de consumo. O esvaziamento do sujeito, reduzido ao seu poder de consumir. Essa homogeneização cultural pelo consumismo marca as sociedades contemporâneas. Escamoteados por um falso discurso de meritocracia, os privilégios deste grupo de alunos são confundidos por eles com sucesso, reproduzindo uma estrutura de hierarquia socioeconômica, e reforçados por visões de mundo discriminatórias e excludentes. O Outro, porque diferente (economicamente, socialmente, educacionalmente etc.), é visto como inferior, como aquele que “não deu certo”, destinado a servir, uma subcategoria de humanos que “não deu certo”.
Esse tipo de mentalidade, violenta e excludente, para não dizer tacanha, deve ser problematizada e desconstruída na escola e em sociedade. A estrutura econômica, bem como o acesso privilegiado ao conhecimento técnico-científico de ponta, propiciará a estes alunos ocuparem cargos de prestígio, de poder – de status social. Isso não pode ser confundido com “dar certo”. A alteridade, o respeito e o (re)conhecimento do Outro como um ser humano devem ser tidos como a base do processo de formação educacional. Formação não para o consumo ou exclusão do Outro, mas sim para a convivência em sociedade. Se assim entendermos, os casos recentes do Rio Grande do Sul mostram que “nada deu certo”.
Numa sociedade como a nossa, com um passado escravocrata-senhorial mal superado e marcada por desigualdades estruturais abissais, a figura do Outro é muitas vezes construída a partir de um discurso de inferiorização, de exclusão. Os espaços de interação social com o Outro diferente, espaços públicos por excelência, cada vez mais são evitados. O grupo social ao qual pertencem esses alunos muitas vezes vive em espaços privados de pluralidade: condomínio, clube, shopping center etc., em que o diferente não é aceito ou bem-vindo. Um verdadeiro apartheid social brasileiro, uma sociedade de muros e segregação, que pode ser representada sinteticamente numa figura: a do elevador de serviço.
Cada vez mais os critérios sociais identificatórios de pertencimento ao grupo que “deu certo” são definidos por marcas, status e símbolos de consumo. O esvaziamento do sujeito, reduzido ao seu poder de consumir. Essa homogeneização cultural pelo consumismo marca as sociedades contemporâneas. Escamoteados por um falso discurso de meritocracia, os privilégios deste grupo de alunos são confundidos por eles com sucesso, reproduzindo uma estrutura de hierarquia socioeconômica, e reforçados por visões de mundo discriminatórias e excludentes. O Outro, porque diferente (economicamente, socialmente, educacionalmente etc.), é visto como inferior, como aquele que “não deu certo”, destinado a servir, uma subcategoria de humanos que “não deu certo”.
Esse tipo de mentalidade, violenta e excludente, para não dizer tacanha, deve ser problematizada e desconstruída na escola e em sociedade. A estrutura econômica, bem como o acesso privilegiado ao conhecimento técnico-científico de ponta, propiciará a estes alunos ocuparem cargos de prestígio, de poder – de status social. Isso não pode ser confundido com “dar certo”. A alteridade, o respeito e o (re)conhecimento do Outro como um ser humano devem ser tidos como a base do processo de formação educacional. Formação não para o consumo ou exclusão do Outro, mas sim para a convivência em sociedade. Se assim entendermos, os casos recentes do Rio Grande do Sul mostram que “nada deu certo”.