Afinal, o jornalismo deve resistir ou se aliar ao ChatGPT?

Rhanna Sarot

Há 17 anos, o uso de dicionários multilíngues foi praticamente extinto com a criação da ferramenta de tradução do Google. Agora, a ameaça recai sobre a comunicação social. A inteligência artificial (IA) ocupou tanto os trending topics quanto às funções primordiais do setor — e de forma tão realista que pode substituir especialistas em diversas áreas.

Se um repórter de televisão demanda vários minutos para escrever o que vai dizer na passagem da matéria, o ChatGPT pode fazer isso em segundos e com alta qualidade. O mesmo acontece com textos mais complexos, com dados e contextualização. Basta detalhar o pedido que a ferramenta entrega conteúdos de excelência. Porém, para que consiga apurar e informar, a inteligência artificial utiliza uma base de dados pré-existente, para que assim possa argumentar, apoiada no que já foi produzido. Ou seja, a produção humana é alimento para a máquina e não há total independência de criação de conteúdo por parte da tecnologia. Por essa razão, acredito que podemos nos acalmar, já que é a garantia da necessidade do trabalho realizado pelo comunicador.

O mesmo aconteceu com a classe artística durante as trends dos aplicativos Lensa e Midjourney, que inundaram as redes sociais no final de 2022 com belas imagens geradas por IA. O uso viral dessas ferramentas foi amplamente debatido e gerou revolta entre os artistas visuais, que reagiram com protestos através de hashtags como #noaiart e #againstai. O movimento, que não durou muito tempo, conseguiu abalar profundamente a indústria cultural e fomentar discussões sobre a real importância da arte e quem deve produzi-la.

No nosso caso, o que devemos fazer se a demanda pelo software ganhar espaço no mercado de trabalho? Com base nessa ideia, podemos partir para um pressuposto de que a inteligência artificial pode se tornar um predador na comunicação e, para que não nos tornemos presas fáceis, precisamos humanizar e sentimentalizar ainda mais as produções. Claro, são deveres éticos do jornalista checar, ouvir os dois lados e ter um olhar crítico sobre os conteúdos, porém, agir de forma defensiva à tecnologia é remar contra a maré da inovação e optar por estagnar-se em vez de se reinventar. A solução, nesse caso, é simples: o que podemos fazer além do que já foi feito?

É fato que o ChatGPT é útil e reduz muito o tempo de produção. São inúmeras qualidades que a partir de agora devem entrar na rotina dos comunicadores numa relação de mutualismo, na qual deve haver interferência humana no que é artificial. Somos nós que montamos o quebra-cabeça: apurar, questionar e humanizar as notícias são funções dos bons jornalistas, treinados para garantir que a verdade prevaleça sempre.

O hibridismo é a garantia de um futuro positivo para as profissões, que demandam cada vez mais do profissional multi-tarefas, agilizado e competente, mas que não abrem mão da criatividade e da inovação. A linha tênue entre usar e abusar é o que define a substituição da pessoa pela máquina.

*Rhanna Sarot é jornalista, pós-graduanda em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing pela Universidade Positivo e assessora de imprensa na Central Press.

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