Reputação na era da Inteligência Artificial

Por Lorena Nogaroli

Desde o surgimento das primeiras redes sociais, a máxima “quem não é visto, não é lembrado” se tornou a regra mais importante. Com o passar do tempo, entretanto, percebemos que estar presente no mundo digital pode ser tão benéfico quanto prejudicial para uma carreira de sucesso ou uma marca. Afinal, ninguém quer ser visto – e, principalmente, lembrado – por um posicionamento equivocado.

Hoje em dia, de nada vale estar presente se você não tem tempo para monitorar sua presença on-line, age por impulso e não consegue checar a veracidade dos fatos antes de compartilhar informações. Com os mais diversos algoritmos e o avanço  da inteligência artificial, essa tarefa se torna ainda mais indispensável para manter a coerência da presença on-line.

Por exemplo, você já tentou perguntar ao ChatGPT quem é você? Fiz esse experimento e a ferramenta quase me levou a uma crise existencial, descrevendo uma pessoa totalmente diferente. Insisti e dei algumas dicas, mas ela bateu o pé em um perfil cuja fonte era um grande veículo de imprensa internacional. Errou.

Testes como esse demonstram que ainda não é possível confiar cegamente nessas ferramentas para solucionar todos os problemas relacionados à nossa presença  nas redes sociais. No entanto, a IA emerge como uma força poderosa capaz de construir, destruir e moldar uma imagem ou reputação. E mesmo que ela, em si, não possua intenções ou julgamentos, suas aplicações podem ter consequências significativas para a reputação de pessoas, marcas e organizações, dependendo de como são usadas e interpretadas.

Uma forma positiva de usar a inteligência artificial é por meio da análise de dados em tempo real. Ferramentas com IA podem identificar tendências e padrões de comportamento, ajudando indivíduos e empresas a tomar decisões mais informadas, ágeis e precisas na prevenção e gestão de crises. Além disso, elas permitem o monitoramento contínuo e em tempo real das menções e discussões on-line sobre uma pessoa, marca ou organização. Afinal, as ferramentas de monitoramento de reputação impulsionadas pela IA podem analisar grandes volumes de dados de mídia social, notícias e outros conteúdos on-line, identificando tendências, sentimentos e identidades digitais. Essa análise detalhada em larga escala fornece insights valiosos sobre a reputação de uma pessoa, marca ou organização e como ela está sendo percebida pelo público. 

No entanto, é necessário ficar de olho nos desafios e nas limitações associados ao uso da IA no gerenciamento de reputação. O monitoramento e a análise humana ainda desempenham um papel crucial na interpretação dos resultados da IA e na tomada de decisões estratégicas para proteger a reputação. Na era da disseminação de notícias falsas e deepfakes, também é possível criar narrativas enganosas que prejudiquem uma imagem. Essa estratégia tem sido frequentemente utilizada em campanhas políticas e em mercados altamente competitivos, como o financeiro.

Por isso, é essencial que profissionais e organizações estejam protegidos com análises de riscos e vulnerabilidades, monitoramento constante e uma equipe competente e preparada para agir rapidamente e de forma cirúrgica.

Se usada de forma consciente e estratégica, a IA pode ser uma poderosa aliada na construção e manutenção da reputação, inclusive contribuindo para a criação de conteúdos on-line que estejam alinhados com o posicionamento desejado de uma pessoa ou marca. Compreender as tendências futuras e adotar medidas de proteção são essenciais para navegar com sucesso nessa era de instantaneidade. Como disse William Shakespeare, um dos maiores dramaturgos e poetas da literatura inglesa, em Othello, “a reputação é uma bolha que pode estourar com um sopro”.

*Lorena Nogaroli é jornalista especializada em gestão de reputação. Sócia-fundadora da Central Press, atualmente comanda o escritório da agência no Reino Unido.

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