Inimigo secreto: venda ilegal de papagaios estimula prática que põe em risco a espécie

Aves estão entre maiores vítimas do tráfico no Brasil

 

No período do Natal alguns presentes parecem inofensivos, mas podem trazer a ilegalidade com eles. É o caso dos papagaios. Por serem dóceis, amigáveis e fáceis de domesticar, esses animais se tornam objetos de desejo de muitas pessoas, assim como suas cores chamativas, que também são um forte atrativo. E é nesse momento que os consumidores se tornam alvos fáceis dos traficantes de animais silvestres.

O período entre agosto e dezembro é considerado o de reprodução do papagaio-verdadeiro, espécie mais domesticada e mais traficada no estado do Mato Grosso do Sul (MS). Nesta época, cresce a venda ilegal dessas aves que, normalmente, são comercializadas ilegalmente ainda quando filhotes. “Neste ano, tivemos a apreensão de cerca de 470 filhotes de papagaio-verdadeiro em quatro estados brasileiros, e a maioria foi no Mato Grosso do Sul. Além desses que conseguimos contabilizar, muitos outros passaram pela fiscalização, o que mostra que o tráfico é um grande problema a ser resolvido”, informa a zootecnista Gláucia Seixas, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

De acordo com ela, o papagaio-verdadeiro é um animal com menor valor na venda por não ser uma espécie rara. Por esse motivo, os traficantes realizam captura em grande quantidade e com valor de venda mais baixo do que os criadouros certificados. A diferença de preço de aves clandestinas pode chegar a ser até sete vezes menor que o praticado por criadouros legalizados e certificados.

Vida silvestre ao vivo

“Papagaio feliz não fala, voa”, afirma Glaucia, que atua nas cidades de maior índice de apreensões de papagaios. “Essas aves não devem repetir o que nós dizemos. Mais interessante do que tê-los em gaiolas em casa, é observá-los na floresta, voando livremente”, comenta ela, que também afirmou: observar aves em um parque, por exemplo, é muito mais benéfico para todos. “Dessa forma, as aves silvestres permanecem em seu habitat e nós nos favorecemos da interação com a natureza, que traz benefícios para nosso corpo, mente, além de ser uma importante lição para nosso filho”.

Mas nem sempre ter um papagaio pode ser um problema. No Brasil é permitido por lei ter papagaios ou outros animais silvestres como animais de estimação, desde que sejam legalizados, ou seja, adquiridos por criadouros regulamentados pelos órgãos ambientais responsáveis. “As pessoas podem presentear outras com papagaios, porém, é preciso que esses animais sejam legalizados. Para que essa compra ocorra dentro da lei é necessário que as pessoas façam uma checagem sobre o criadouro que está fornecendo os animais. Atualmente, existem muitos criadouros disfarçados, o que acaba dificultando essa checagem”, alerta a zootecnista. Para quem deseja ter um animal regularizado em casa, é preciso consultar o Ibama para se informar sobre locais certificados e credenciados. Além disso, a ave deve estar anilhada e chipada, e deve ser criada em cativeiro.

Aves são importantes para o meio ambiente

Antes de decidir comprar um papagaio como animal de estimação, algumas informações também são importantes. De acordo com a bióloga Neiva Guedes, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, essas aves são valiosas na natureza por serem polinizadores importantes e também por serem conhecidas como engenheiras ambientais, pois seus ninhos são usados por outras aves posteriormente.

Para garantir o bem estar da espécie, um projeto foi criado há 20 anos para trabalhar pela conservação desses animais e do ambiente onde vivem. Entre tantas ações que realiza, o “Projeto Papagaio-Verdadeiro” busca gerar informações sobre o impacto do tráfico sobre as populações nativas e mobilizar a sociedade em ajudar a combater o tráfico e conservar a espécie em seu ambiente natural.

Outra iniciativa nacional que visa evitar a retirada de papagaios da natureza é o Programa Papagaios do Brasil. Lançado em novembro de 2017, o projeto integra ações de conservação de seis espécies de papagaios com diferentes graus de ameaça: papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), papagaio-charão (Amazona pretrei), papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha) e papagaio-moleiro (Amazona farinosa).

O Programa Papagaios do Brasil segue as diretrizes do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios (PAN Papagaios) e tem ações previstas até 2021, entre atividades de educação e conscientização para conservação da natureza, pesquisas e participação de instituições públicas e privadas. O Programa tem apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e realização da SPVS, Parque das Aves, Fundação Neotrópica, Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA) e ICMBio/CEMAVE.

 

Sobre a Rede de Especialistas

A Rede de Especialistas de Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Sobre a Fundação Grupo Boticário

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.528 projetos de 501 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país.  Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.brwww.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.

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