Um retorno à Idade Média

Escola promove Feira Medieval e revela aspectos curiosos da gastronomia da Idade Média

Enquanto o porco assa lentamente no espeto, espalhando o aroma pelas barracas enfeitadas, os estudantes das séries finais servem suco de groselha na taberna temática — uma iniciativa criativa para arrecadar fundos destinados à formatura. A 7ª edição da Feira Medieval do Colégio Semeador, em Foz do Iguaçu (PR), reuniu alunos do Ensino Fundamental e Médio, professores e convidados para o tradicional evento, no dia 13 de setembro.

Inspirada em estruturas domésticas, arenas, jogos, teatros e gastronomia dos séculos XII e XV, a Feira Medieval proporcionou uma experiência pedagógica, reflexiva e de integração com um emblemático período histórico. Acompanhados de professores responsáveis, os estudantes recriaram fachadas de castelos e, caracterizados, reviveram por um dia o período histórico. “O evento desenvolve habilidades como criatividade, trabalho em equipe, liderança e pesquisa histórica: tudo de forma lúdica e significativa”, afirma Henrique Pedrotti, coordenador do Ensino Médio do Colégio Semeador.

No processo de pesquisa, os alunos trazem algumas descobertas sobre a gastronomia da época.

1. O pão servia como pratoChamado de trencher, era um pedaço de pão duro, geralmente feito de farinha de centeio ou trigo menos nobre. A comida era colocada em cima dele. Ao final da refeição, o pão encharcado podia ser comido ou dado aos pobres

2. Carne era sinal de statusNobres consumiam caça (veado, javali, faisão) e carnes temperadas com especiarias caras vindas do Oriente, como pimenta e canela. Já os camponeses comiam mingaus, legumes e, quando possível, carne de porco salgada.

3. Peixe em dias de jejumOs católicos costumavam praticar até 150 dias de abstinência de carne por ano. Nesses períodos, peixe fresco, seco ou salgado substituía as carnes. O bacalhau e a arenque se tornaram fundamentais na dieta europeia.

4. Cerveja e vinho substituíam a águaA água potável era difícil de conseguir e a água disponível era, muitas vezes, contaminada. Crianças e adultos bebiam cerveja fraca (small beer) ou vinho diluído em água. “O álcool ajudava a conservar e matar bactérias”, conta Pedrotti.

5. O açúcar era considerado remédioImportado do Oriente Médio, o açúcar era raríssimo e caríssimo. Usado em pequenas doses, era visto como especiaria medicinal, não como ingrediente comum. O mel era o adoçante do dia a dia.

6. Sopas grossas chamadas “pottages”Mistura de grãos, legumes, ervas e, quando disponível, um pouco de carne. Era a base da alimentação dos camponeses e podia cozinhar por dias, recebendo novos ingredientes ao longo do tempo, para variar o sabor.

7. Especiarias eram símbolo de riqueza
Pimenta, noz-moscada, açafrão e gengibre valiam tanto quanto ouro. Usar especiarias na mesa era uma forma de mostrar poder econômico. Muitas vezes, eram usadas até em pratos de peixe já estragados para disfarçar o cheiro.

8. Frutas e legumes eram vistos com desconfiançaAlgumas frutas e verduras cruas eram consideradas perigosas à saúde. Acreditava-se que poderiam causar doenças se ingeridas sem cozimento. Maçãs e peras, por exemplo, eram geralmente cozidas antes de comer.

9. Banquetes tinham pratos exóticos e teatrais
Em festas nobres, servia-se cisne, pavão ou até porco inteiro recheado com aves menores. Muitas vezes, os animais eram apresentados na mesa decorados com suas próprias penas ou peles para impressionar.

10. O sal era um luxo absoluto
Essencial para conservar carnes e peixes, o sal tinha valor político e econômico. As cidades que controlavam salinas enriqueceram, e até o soldo dos soldados romanos (de onde vem a palavra “salário”) tinha ligação com o sal.

Costumes à mesa

As refeições medievais obedeciam a uma hierarquia rígida à mesa. Nas cortes e castelos, os lugares eram definidos pela posição social. O senhor ou rei ficava no lugar de honra, em uma mesa elevada (high table), e os demais se organizavam de acordo com seu prestígio. “Comer próximo ao anfitrião era sinal de prestígio e confiança”, destaca Pedrotti. Ele lembra também que garfos eram praticamente inexistentes até o final da Idade Média. “Usava-se as mãos, facas pessoais (que cada um trazia consigo) e colheres de madeira ou metal.” Além disso, os copos eram frequentemente compartilhados entre dois ou mais convivas.

Os pratos eram montados com carnes de caça, especiarias e tortas recheadas com diferentes ingredientes. Veado e aves eram carnes símbolo de status entre a nobreza. Para o preparo dessas iguarias, as técnicas incluíam o uso de molhos à base de vinho, manteiga, além de sucos fermentados, tudo sempre acompanhado do pão. 

Já a modernidade prioriza a estética dos alimentos, bem como a variedade e a saúde. Os alimentos são apresentados com estilo e foco na nutrição balanceada, com forte influência da nouvelle cuisine enfatizando pratos artísticos, porções menores e com sabor destacado. 

A tecnologia moderna também permite um controle preciso sobre os métodos e temperaturas de cozimento, resultando em pratos mais refinados e diferenciados.

O que as pessoas bebiam na era medieval?

Água

Nessa época, apenas os proprietários mais ricos contavam com reservatórios particulares de água limpa. O acesso à água pura só era possível se viesse de uma fonte cristalina, ou através da fervura. Rios e poços, fontes de água comuns, geralmente eram contaminados pelo lixo e esgoto — motivo de muitos surtos, doenças e mortes. Por essa razão, era comum as pessoas recorrerem às infusões de folhas para chás, fermentação de frutas, vinho e cerveja. 

Cerveja 

De uma maneira estranha aos dias atuais, a cerveja continha nutrientes fortes para sustentar os trabalhadores em atividades braçais pesadas. A bebida também era permitida às crianças, um hábito peculiar no café da manhã e nas refeições. Beber cerveja era menos arriscado e mais saudável do que beber água.

A fabricação da cerveja, com açúcares, malte e levedura para a fermentação, também fazia bem à saúde. Além disso, ervas eram adicionadas à bebida — resultando em uma levedura rica em nutrientes, como minerais e vitaminas.

Vinho

Assim como a cerveja, pelo processo de fermentação e o teor alcoólico, o vinho também oferecia uma alternativa mais segura do que beber água. Com significado espiritual, a bebida também era associada à Igreja, por ser essencial para a Eucaristia. Para a nobreza, o vinho simbolizava riqueza e poder. Diluído com especiarias como mel, gengibre e canela, adquiria propriedades curativas, por exemplo, para problemas digestivos.

Uma variedade de vinhedos floresciam em muitas partes da Europa Medieval, particularmente de regiões da França, Itália, Espanha e Alemanha. Servir vinhos desses lugares era sinônimo de influência e conhecimento.

Cidra

A cidra também desempenhou um papel significativo na época medieval. Composta de maçãs fermentadas, a bebida era considerada nutritiva e segura, uma alternativa prática às cervejas à base de grãos, além de ser produzida localmente.

Hidromel

Bebida antiga associada à cultura germânica e nórdica, o hidromel era produzido a partir de mel e água. Contudo, com o passar do tempo, a mistura acabou perdendo um pouco da sua popularidade para o vinho e a cerveja.

Sobre o Colégio Semeador

Fundado em 1994, em Foz do Iguaçu (PR), o Colégio Semeador atende da Educação Infantil ao Ensino Médio em um espaço de 161 mil m² que valoriza o contato com a natureza e o bem-estar dos estudantes. Sua proposta pedagógica une teoria e prática, promovendo aprendizagem contínua, pensamento crítico e criatividade. Desde 2019, integra a Rede Positivo.

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