Obras urbanas e artistas como Banksy ganham espaço no Enem como símbolos de crítica social e expressão política
A arte urbana tem deixado os muros das cidades para ocupar também as páginas das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O grafite, antes marginalizado, é hoje reconhecido como forma legítima de manifestação artística e frequentemente explorado em questões de Linguagens e em temas de redação.
O motivo para essa ascensão é claro: o grafite não é apenas estética, mas discurso. Por meio de cores, formas e frases impactantes, artistas urbanos abordam temas como desigualdade social, repressão política, violência urbana e direitos humanos — assuntos centrais no Enem.
O britânico Banksy é um dos nomes mais lembrados quando se fala em arte de protesto. Com obras espalhadas por muros e edifícios em diversos países, o artista anônimo mistura ironia, crítica política e empatia social. “Banksy é um dos exemplos mais atuais de como a arte pode ser um canal direto de comunicação crítica com a sociedade”, afirma a professora Livia Keiko Nagao, do Colégio Positivo – Master, de Ponta Grossa (PR). “Suas intervenções urbanas misturam sátira, crítica social e política em temas como desigualdade, guerra, consumo e liberdade, transformando paredes e espaços públicos em instrumentos de reflexão e protesto.”
No Brasil, o reconhecimento do grafite como expressão artística legítima ganhou corpo a partir da aprovação da Lei nº 12.408/2011 — que distinguiu explicitamente a prática do grafite artístico autorizada da pichação. Desde então, artistas como Os Gêmeos, Nina Pandolfo e Eduardo Kobra alcançaram projeção internacional.
A professora Gabriella Bracisievski, do Colégio Estadual Jorge Queiroz Netto, de Piraí do Sul (PR), destaca que os murais urbanos refletem transformações importantes nas formas de pensar arte e cidade. “A arte urbana hoje está em museus, galerias e livros didáticos. Ela problematiza questões sociais com força visual. Por isso, é uma aposta do Enem para estimular a leitura crítica do espaço público e da cidadania”, explica.
Segundo Rodrigo Wieler, professor do Curso e Colégio Positivo, de Curitiba (PR), o grafite é também um símbolo de inclusão e resistência. “Trata-se de uma arte que nasce nos bairros periféricos e carrega a voz de quem muitas vezes é invisível nas discussões políticas e culturais. O Enem reconhece isso quando coloca esse tipo de produção em destaque nas suas provas”.
A tendência do Enem de valorizar manifestações artísticas ligadas à realidade brasileira torna o grafite um repertório possível até para redações. “Quando o tema envolve violência urbana, desigualdade social ou direito à cidade, citar a arte urbana pode reforçar o argumento com legitimidade cultural e atualidade”, afirma Mabel Borges, mestre em História da Arte e professora do Colégio Donaduzzi, de Toledo (PR).
“Mais do que tinta na parede, o grafite é linguagem visual de impacto, e o Enem tem reconhecido seu poder pedagógico. Ao transformar a cidade em tela, os artistas de rua desafiam o silêncio e convidam o público — inclusive os estudantes — a olhar para o mundo de forma mais crítica e criativa”, conclui a professora.