Por Manoel Knopfholz, diretor do Núcleo de Ciências Humanas e Sociais e Coordenador do Comitê de Assuntos Internacionais da Universidade Positivo (UP)
Almoço familiar de domingo. Pai, mãe e dois filhos à mesa. O assunto da conversa gira em torno da loja onde todos trabalham. De repente, a refeição começa a ficar indigesta quando um dos irmãos queixa-se do outro, acusando-o de não cumprir as suas responsabilidades no negócio familiar. O segundo questiona com que autoridade o primeiro o julga. Pai e mãe, constrangidos, tentam reconduzir a conversa para assuntos de interesse familiar – os estudos dos filhos, suas amizades e outras amenidades dignas de um leve e delicioso encontro entre pais e filhos.
Este é um cenário clássico no qual há uma evidente interposição entre os Negócios DE Família e os Negócios DA Família. Relações familiares – DE Família – trazem consigo uma carga afetiva enorme, de cunho emocional, que não podem ser traduzidos no plano material como nos DA Família. Os vínculos entre pais, filhos, cônjuges, irmãos e outros tantos graus de parentesco são movidos por amor, ódio, carinho, inveja, ciúme e outros sentimentos poderosos que invariavelmente gravitam entre os que são (ou deveriam ser) próximos. Caim e Abel são exemplos bíblicos e a obra de Shakespeare é fértil neste tema.
Por sua vez, os elos patrimoniais e empresariais são fundamentados em medidas econômicas e financeiras, por lucros e valorizações, tendo sempre uma medida material. Daí porque é preciso não confundir os Negócios DA Família com os Negócios DE Família. São de lógicas e expectativas diferentes e por isso mesmo devem ser percebidos de modo distinto entre si. É evidente que não é uma tarefa fácil para o núcleo familiar que é proprietário de uma empresa e possuidor de um patrimônio.
O recomendado é a transformação da Empresa Familiar em Família Empresária. A perspectiva que se terá de cada uma delas é diferente quando estabelecido o sentimento de pertencimento de cada um dos familiares – tanto na Família, como na Empresa e no Patrimônio. Para que isso aconteça é imperativo que se valorize de forma equilibrada tanto a importância dos vínculos familiares e de parentesco, como os do patrimônio e os empresariais.
A experiência de muitas práticas tem demonstrado que isto é tecnicamente possível por meio de mecanismos com o Protocolo Familiar, Acordos Familiares, Patrimoniais e Empresariais, entre outros. Decodificar as reações e normatizá-las não é difícil. No entanto, é preciso a sensibilização de que este movimento precisa ser feito, sob pena dos Negócios DE Família e os DA Família serem autofágicos entre si, de modo a não perpetuarem-se nem os valores familiares e nem os negócios empresariais e patrimoniais.
É fundamental que, em determinado ponto das relações entre os integrantes do núcleo familiar, seus integrantes percebam que os Negócios DA Família não são mais importantes que os Negócios DE Família e vice versa. É vital compreender que o prevalecimento de um sobre o outro significa ficar sem família, sem empresa e sem patrimônio.