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Por José Motta Filho, engenheiro civil, professor de Física no Colégio Positivo e professor de Cálculo Diferencial e Integral na Universidade Positivo
Uma das principais funções da democracia é a proteção dos direitos humanos fundamentais, como a liberdade de expressão, de religião, a proteção legal, e as oportunidades de participação na vida política, econômica e cultural da sociedade. Os cidadãos têm os direitos e os deveres de participarem de inúmeros sistemas sociais devidamente organizados, visando proteger seus direitos e sua liberdade. Com base nesses princípios – e diante das alarmantes notícias sobre as ocupações das escolas no Paraná (e no Brasil) – como fica o dever de um professor em cumprir o seu labor? E o direito de um aluno de assistir à aula desse professor? Será que a legítima via democrática, que seria uma inteligente e ativa cobrança dos representantes do povo, foi simplesmente suprimida e trocada pela estratégia de vencer pelo cansaço e pelo grito?
Há de se evidenciar o engajamento de muitos estudantes em querer fazer a sua voz ser ouvida no momento em que os governantes anunciaram a reforma de um segmento importante da educação básica: o ensino médio. Realmente é possível perceber pontos muito bons – e necessários – nessa proposta. Como, por exemplo, permitir ao aluno que, a partir do segundo semestre da 2ª série do ensino médio, ele escolha uma área do conhecimento para se aprofundar, dentre cinco opções. Talvez, dessa maneira, possamos efetivamente descartar vários conteúdos que costumo chamar de “perfumaria desnecessária nada estimulante” para jovens que são altamente tecnológicos e conectados. Porém, a medida provisória, que foi apresentada de forma truncada e equivocada, também trouxe consigo vários pontos negativos: educação integral sem o devido recurso para fazer acontecer, áreas de conhecimento que deixarão de existir, professores com “notório saber”, etc…
Sou professor do ensino médio (e também do ensino superior) e, quando reflito profundamente sobre o fato de que um reduzido grupo de estudantes se aproprie de uma escola, fazendo com que todo um planejamento escolar acadêmico seja quebrado, prejudicando cada espaço escolar com a interrupção das aulas e atividades diversas, corremos claramente o risco de praticar a antidemocracia. Podemos ainda, adicionar a esse cenário, a vasta desinformação entre os estudantes sobre o conteúdo da reforma, a triste perda da vida de um estudante de apenas 16 anos em Curitiba, e a constante manipulação da informação e das pessoas envolvidas em todo esse trágico processo de ocupação das escolas. Portanto, não se pode tolerar ou permitir que esse tipo de movimento perdure por tanto tempo. Quando os estudantes manifestantes, imbuídos das suas verdades e razões, impediram o funcionamento de centenas de escolas, faltou-lhes a serenidade e o entendimento de que prejudicaram milhares de colegas que, por exemplo, se preparavam para o ENEM e para os iminentes vestibulares.
Não defendo que esse processo tenha sido ilegítimo, mas tive em vários momentos a sensação de falta de argumentos e “ausência de um norte” nos discursos que li e ouvi. Estou certo de que, em muitos momentos das nossas vidas, somos levados erroneamente a tentar resolver problemas por vias não pacíficas e querer promover ações para chamar a atenção. Porém, em um ambiente educacional, para começar, é preciso ser educado e elegante nas ações e palavras. Afinal de contas, a democracia expressa claramente o princípio de que há direitos que não podem ser limitados pelos outros. Tentar defender ideias imprimindo a força, em detrimento ao diálogo inteligente e organizado, jamais trará impactos positivos diante de uma sociedade que está carente de bons exemplos, de boas pessoas e de boas ações.