Por Morgana Toaldo Guzela, coordenadora do curso de Gestão de Eventos do Centro Tecnológico Positivo
Em 2011, Jérôme Valcke, então secretário-geral da FIFA, disse que o Brasil deveria levar um “pontapé no traseiro” para acelerar as obras que estavam consideravelmente atrasadas para a Copa do Mundo de 2014. Apesar do descrédito que recebeu com o escândalo de corrupção que envolveu seu nome posteriormente, naquele momento, mesmo se expressando de forma inadequada, Valcke tinha razão na preocupação que externava sobre os prazos. Naquela época – e até que a Copa acontecesse – foram preocupantes, e até traumáticos, os atrasos com a rede hoteleira, com os transportes e de infraestrutura, elementos essenciais para um megaevento. Em 2009, o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016 e, chegado o esperado ano olímpico, a pergunta de muitos é: estamos novamente na mesma situação?
Para a realização de um evento desse porte, o primeiro aspecto essencial é com relação aos equipamentos esportivos construídos, que deverão estar prontos e devidamente testados para a realização das competições. Há também as necessidades de hospedagem das delegações, comitês e do público participante, do transporte para o destino e dentro da cidade, além de alimentação, segurança, fornecimentos elétrico, de saneamento, coleta, receptividade da população, opções de entretenimento, dentre outros. Com uma dose de burocracia com processos, legislação, licitações, aspectos políticos e adicionada a cultura do “fazer em cima da hora”, os cronogramas tiveram de ser apertados e os prazos readequados, pois os atrasos estavam chamando a atenção e trazendo a organização do Comitê Rio-2016 como a pior dos últimos 20 anos, na consideração do Comitê Olímpico Internacional (COI). Esse parece ter sido o impulso que podemos correlacionar com o que Valcke dizia ser necessário nos preparativos da Copa de 2014.
No último ano, os efeitos dos comentários negativos quanto aos prazos, assim como a percepção de aspectos críticos da Copa, fez com que algum tempo fosse recuperado – e muito foi feito. Porém, os prazos ainda estão apertados e as obras, seja de infraestrutura, hotelaria ou mobilidade, em sua grande maioria, não concluídas. Temos a impressão de voltar à lição ainda não aprendida: tempo é dinheiro! Qualquer projeto que tenha menos tempo para a realização custa mais caro e prejudica a própria população, por aspectos econômico-financeiro, sociocultural, político, ecológico, dentre outros. O planejamento e a antecipação são necessários quando tratamos de projetos e, principalmente, de eventos de tamanha importância.
Para ajudar a complicar, a instabilidade político-econômica que o país enfrenta atualmente também ameaça a realização Olimpíadas no Brasil, causando preocupações consideráveis em diversas instâncias, desde o COI, passando pelo Comitê Rio-2016, pela iniciativa pública, privada e a sociedade. A perspectiva é que, assim como ocorreu na Copa, o evento aconteça e seja um sucesso! Mas novamente tudo ficará pronto em cima da hora, sem tempo para dedicar aos detalhes e a aspectos relacionados aos diferenciais potenciais que os Jogos Olímpicos realizados no Brasil poderiam apresentar. Diferenciais que vão além da infraestrutura, e envolvem a experiência, a excelência em serviço, a hospitalidade e o profissionalismo.