Conferência realizada no primeiro dia de Congresso do meio ambiente alerta para saúde pública

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Para pesquisadora canadense, Matilda Van den Bosch, contato com a natureza resolveria questões como sedentarismo, estresse e solidão

Na manhã desta terça-feira (31), a Conferência Conservação da Natureza e Saúde Pública, realizada dentro da programação do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC) – realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – abordou a importância do contato dos seres humanos com áreas verdes para a melhoria da saúde dos cidadãos. A palestra foi apresentada pela pesquisadora sueca Matilda Van den Bosch e mediada por Teresa Magro, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Ela deu início à apresentação falando que questões relacionadas ao meio ambiente precisam estar mais presentes nos assuntos acadêmicos da área médica: “infelizmente, durante minha formação em medicina, nunca ouvi falar em meio ambiente. O que é um grande equívoco, afinal, conservando a natureza e promovendo um maior contato das pessoas com as áreas verdes, podemos melhorar a saúde do planeta”.
Durante a explanação, Matilda apresentou diversos estudos que demonstram a importância da interação das pessoas com o meio ambiente, pois, segunda ela, se isso não estiver interconectado, existirão ainda mais problemas de saúde globais. “Em 2014, o desafio era combater as doenças infecciosas. As previsões para 2030 dão conta que os esforços estarão voltados aos transtornos de depressão e outras doenças mentais”, revelou.
Tal contexto pode mudar, dependendo da maneira que as pessoas vivem e interagem com o meio ambiente: “precisamos reduzir e combater esses fatores de risco, como sedentarismo, estresse, solidão, privação socioeconômica e as mudanças climáticas, que contribuem de forma negativa sobre todos esses itens”.
Estudos comprovam a importância da nossa relação com a natureza
Uma pesquisa coordenada por Matilda em 2013 mostrou que o contato das pessoas com a natureza ajuda a recuperar quadros de estresse. “Notamos que o problema é muito maior na área urbana que na área rural”, destacou. Um grupo de estudiosos alemães foi a fundo nessa linha de pesquisa e descobriu que o sistema límbico das pessoas que moravam em cidades estava mais vulnerável aos transtornos de humor e ao desenvolvimento de outras doenças mentais, como a depressão. Ou seja, segundo a pesquisadora a urbanização global contribui para o aumento do problema.
Por outro lado, o contato com o meio ambiente diminui a incidência de pensamentos negativos e preocupações, pois essa atividade atua diretamente nas partes emocionais do cérebro, como o córtex pré-frontal. “Como disse Voltaire, ainda no século 18, a função da medicina era distrair o paciente enquanto a natureza fazia seu serviço”, citou a especialista.
No entanto, o aquecimento global e a poluição atmosférica se colocam como grandes inimigos de todo esse movimento, pois, se a mudança climática continuar no ritmo que está, não será mais possível fazer exercícios ao ar livre. Salvador e cidades do Oriente Médio foram utilizadas como exemplos de locais que ficarão inviáveis para a prática de atividades físicas. “Podemos nos adaptar a um aumento de temperatura, mas até um certo ponto. Sempre há um limite humano”, disse.
Antes de finalizar a Conferência, Matilda Van den Bosch fez um alerta: “Está mais do que na hora de tomarmos atitudes, envolvendo urbanistas, gestores públicos, especialistas em meio ambiente e diversos outros atores, para combater esses problemas. Precisamos de mais colaboração para salvar as pessoas e o planeta”.
*Matilda é doutora em medicina, planejamento paisagístico e saúde pública, mora atualmente no Canadá e trabalha para inúmeras entidades internacionais ligadas à saúde e ao meio ambiente, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e o Departamento de Mudanças Climáticas e Inovação do Canadá. Além disso, é editora associada da Urban Forestry & Urban Greening e co-editora do livro didático de Natureza e Saúde Pública da Oxford University Press, publicado no início de 2018.
IX CBUC
Realizado periodicamente desde 1997, o evento é um dos mais importantes fóruns da América Latina sobre áreas protegidas, seus desafios e sua importância para a sociedade. Em oito edições, produziu diversos resultados positivos para a conservação da natureza, como a criação, ampliação e gestão eficiente de unidades de conservação. A nona edição acontece de 31 de julho a 2 de agosto de 2018, em Florianópolis (SC). “Neste ano, O CBUC tem uma programação abrangente, que inclui conferências, palestras e simpósios, além de mostras que possibilitam ao público ter contato com iniciativas e projetos inovadores”, analisa a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.
Uma das novidades do evento é a apresentação de trabalhos técnicos em formato de banners digitais, o que evita a impressão em papel e traz um caráter mais dinâmico e interativo para a discussão.  A programação preliminar do IX CBUC está disponível no site www.fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
A Fundação Grupo Boticário é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. A Fundação Grupo Boticário apoia ações de conservação da natureza em todo o Brasil, totalizando mais de 1.500 iniciativas apoiadas financeiramente. Protege 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado, por meio da criação e manutenção de duas reservas naturais. Atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e nas políticas públicas, além de contribuir para que a natureza sirva de inspiração ou seja parte da solução para diversos problemas da sociedade. Também promove ações de mobilização, sensibilização e comunicação inovadoras, que aproximam a natureza do cotidiano das pessoas.

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