Lições de Sebastião Salgado para o Enem

Fotógrafo falecido em 2025 deixa legado que vai além da estética: obra documenta dignidade humana, desigualdade social e crise ambiental

O ano de 2025 marcou o fim da trajetória de um dos mais importantes fotógrafos do mundo. Sebastião Salgado, mineiro de Aimorés, faleceu aos 81 anos, deixando uma obra visual que ultrapassa fronteiras geográficas, linguísticas e estéticas. Com a câmera como instrumento de denúncia e empatia, registrou, ao longo de mais de quatro décadas, as dores, lutas e resistências da humanidade — temas que dialogam diretamente com os conteúdos abordados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Mais do que belas imagens em preto e branco, o trabalho de Salgado constitui um testemunho visual dos séculos XX e XXI. Suas séries fotográficas cobrem temas como migração forçada, trabalho precário, pobreza e degradação ambiental. Obras como TrabalhadoresÊxodos e Gênesis já apareceram em livros didáticos e em provas do Enem, sobretudo em questões de Linguagens, Geografia e Sociologia.

“Sebastião Salgado é um repertório de altíssimo valor cultural e ético. Sua obra expõe a desigualdade com sensibilidade. Ele traduz visualmente temas que os estudantes precisam interpretar criticamente no Enem, como mobilidade populacional, crise ambiental e dignidade no trabalho, mostrando o impacto humano de situações como guerras, violência e deslocamentos forçados”, afirma Livia Keiko Nagao, professora do Colégio Positivo – Master, de Ponta Grossa (PR).

A maneira como o fotógrafo compunha suas imagens também é objeto de análise nas provas. As fotografias em preto e branco, os contrastes intensos e o uso preciso da luz remetem a uma estética clássica, que amplifica o impacto emocional das cenas. Mais do que documentar, Salgado narrava histórias humanas por meio da fotografia.

“Ele não era apenas um fotógrafo. Era um contador de histórias com a lente. Essa forma de ver o mundo, que dá rosto aos excluídos e voz aos invisíveis, pode ser usada como argumento nas redações do Enem, especialmente em temas que abordem justiça social, direitos humanos ou sustentabilidade”, observa o professor Rodrigo Wieler, do Curso e Colégio Positivo, de Curitiba (PR).

Mabel Borges, mestre em História da Arte e professora do Colégio Donaduzzi, em Toledo (PR), destaca a sensibilidade ambiental do artista. A partir dos anos 2000, Salgado passou a se dedicar também a temas ecológicos. Com o projeto fotográfico Gênesis, percorreu mais de 30 regiões do planeta pouco afetadas pela ação humana, revelando paisagens, povos e ecossistemas que resistem à devastação provocada pelo progresso industrial. “A série propõe uma reconexão com o planeta e com as origens da vida, funcionando como uma espécie de oração visual pela preservação da Terra”, explica Mabel.

Ela lembra que, nesse mesmo espírito, Salgado e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, fundaram o Instituto Terra, um projeto pioneiro de restauração ambiental na antiga fazenda da família do fotógrafo, em Aimorés (MG). Desde 1998, o Instituto promoveu o reflorestamento de mais de 600 hectares de Mata Atlântica — uma das florestas mais biodiversas e, ao mesmo tempo, mais degradadas do mundo —, plantando milhões de árvores nativas, recuperando cerca de 2 mil nascentes e criando um viveiro que já produziu mais de 7 milhões de mudas.

“O que antes era uma terra árida e degradada transformou-se em um santuário ecológico e referência internacional em restauração ambiental. Mais do que um projeto técnico, trata-se de uma ação poética e política: ao devolver a vida ao solo e à fauna local, Salgado demonstra que a arte pode ir além da denúncia — pode regenerar, mobilizar e ensinar”, afirma Mabel. “Seu trabalho é um apelo visual e prático à consciência ambiental, que inspira pessoas, comunidades e governos a repensarem sua responsabilidade com o planeta e com as futuras gerações e pode servir de inspiração para temáticas relacionadas ao meio ambiente nas redações do Enem”, completa.

“É uma figura que conjuga arte, ciência e cidadania. O Enem valoriza justamente esse tipo de atuação interdisciplinar e comprometida com a transformação social”, ressalta Gabriella Bracisievski, professora do Colégio Estadual Jorge Queiroz Netto, em Piraí do Sul (PR).

O legado de Sebastião Salgado ganha relevância renovada nas provas que exigem leitura crítica de imagens, interpretação de textos multimodais e análise de discursos visuais. “Sua obra pode ser citada como repertório legítimo ao tratar de migração, trabalho, exclusão social, meio ambiente, povos indígenas, direitos humanos e até mesmo ética jornalística”, explica o professor Marcel Costa, do IntegralMind, de São Paulo (SP). 

Mas, segundo Costa, o que torna Salgado realmente importante não é o tema que fotografa, e sim o modo como transforma dor em dignidade. “Ele não denuncia para chocar — ele revela para reconectar. Em um tempo em que quase tudo é exibido e pouco é visto, suas imagens lembram que compreender o mundo é um exercício de empatia ativa. E isso, para quem vai fazer o Enem, vale mais do que qualquer repertório decorado”, conclui.

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