OPINIÃO: E o cartão caminhoneiro?

Leide Albergoni*

O cartão caminhoneiro anunciado pela Petrobras, em março, e confirmado pelo presidente Jair Bolsonaro, tem como objetivo proteger os caminhoneiros da oscilação diária no preço do diesel, durante um serviço de frete. Segundo a proposta, o caminhoneiro carrega o cartão antes da viagem pelo preço do diesel do dia e abastece o veículo durante a viagem com o saldo de litros de combustível carregado no cartão.

O cartão é válido somente nos postos BR, mas parece uma solução interessante e viável. Sem o tradicional protecionismo histórico que distorce preços relativos, não se vê objeções à medida, nem mesmo as irracionais. Mesmo em uma economia de livre mercado (que não é o caso do Brasil), a compra da matéria-prima antes do início do processo de produção é uma estratégia das empresas para maximizar lucros e se precaver da variação brusca no custo dos insumos. Esse método é útil para matéria-prima com alta volatilidade de preços, como é o caso do combustível, especialmente quando o preço do produto com o consumidor é definido antes de sua produção.

Quando isso é possível, as empresas adquirem o insumo e o estocam para utilizar durante o processo de produção. No caso do combustível, não é possível fazer o estoque físico do produto em viagem, pois a capacidade do tanque é limitada e são necessários vários abastecimentos em uma viagem que atravesse um estado, por exemplo. A compra de “créditos” de litros de combustível é a forma mais viável de realizar essa antecipação de custos.

O que é novidade para o setor de transporte, é história milenar na agricultura. O mercado futuro é a via utilizada pelos produtores agrícolas e pelos compradores de insumos para se precaver de oscilações no preço de grãos e outras commodities. A operação é um pouco mais ampla que a proposta para os caminhoneiros, sendo que os agricultores podem prometer a venda de sua colheita no momento do plantio, a partir de um preço que seja possível cobrir os custos da produção. Se no momento da colheita o preço for superior ao acordado, o agricultor ganha um pouco menos do que o valor de mercado, porém, o suficiente para cobrir seus custos e gerar seu lucro. Se o preço for inferior ao do contrato, ele se protegeu do prejuízo. O mesmo raciocínio vale o comprador da matéria-prima.

No meio desses agentes, surgiram os intermediários (traders) que assumem riscos para ganhar algum dinheiro com especulações sobre o preço futuro, e que acumulam históricos de crises e bolhas especulativas. Na definição das regras do cartão combustível, é necessário que sejam estabelecidos mecanismos para evitar esse tipo de “intermediação” e especulação, pois uma medida que parece razoavelmente racional pode se transformar em “oportunidade” de negócios a outros atores, que não os próprios caminhoneiros e empresas de transporte.

Ainda que não solucione por completo o problema logístico do Brasil, a previsibilidade de custos para definição do preço do frete é uma gota de esperança para o imbróglio que se tornou o setor de transporte rodoviário de cargas.

*Leide Albergoni é autora do livro Introdução à Economia – Aplicações no Cotidiano e professora da Universidade Positivo.

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