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*Carlos Eduardo Scarpim Winnikes
Historicamente, o conceito de saúde ocular no Brasil desenvolveu suas raízes em torno da profissão médica. Este caminho gerou uma percepção equivocada do que significa a saúde visual. A reserva de mercado, o desconhecimento sobre a multidisciplinaridade neste campo e a falta de uma cultura ocular resultam na ausência de uma política pública eficiente no combate à cegueira evitável, na falta de um protocolo de prevenção e na escassez de atendimento primário, além de gerar filas no Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimentos desta modalidade. A saúde pública brasileira é pouco eficiente no âmbito dos tratamentos oculares, e não possui um programa difundido para terapia com pessoas com algum tipo de disfunção visual, motora e sensorial.
No mundo, 314 milhões de pessoas apresentam dificuldade em algum dos olhos. No Brasil, estima-se que, da população geral, 14,5% apresentam alguma deficiência e, destes, 48,1% possuem alguma dificuldade visual, ou seja, quase 12 milhões de pessoas. Por outro lado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 75% de toda cegueira é tratável e/ou evitável. A medicina não conseguirá resolver sozinha os problemas de saúde visual da população. A formação médica em saúde ocular está voltada para o tratamento de média e alta complexidade, os profissionais médicos estudam e se formam para tratarem das doenças que podem acometer o globo ocular.
A OMS alega que a demanda por serviços de saúde ocular está concentrada na avaliação de problemas refrativos. Entretanto, o diagnóstico precoce e o tratamento das morbidades oculares crônicas, como a catarata, o glaucoma e a retinopatia diabética, são importantes demandas potenciais. A oferta de serviços de saúde ocular no Brasil é limitada, especialmente no setor público, e centrada no oftalmologista. A população acredita que o único profissional em saúde visual é o médico oftalmologista e, muitas vezes, o procura exclusivamente para atendimentos de atenção primária à saúde visual.
A organização do sistema de saúde, dentro dessas premissas, impede que exista nas Unidades Básicas de Saúde – UBS um profissional que filtre a maior parte das demandas dentro da área de saúde visual. Tal configuração torna o gargalo muito grande para o atendimento nos níveis secundários e terciários. Quem perde é a população que, sem uma avaliação precoce, pode vir a ficar cega, uma vez que o sistema é pouco eficiente e caro. Por exemplo, problemas de saúde visual mais comuns, como ametropias, poderiam ser corrigidos por profissionais não-médicos, e os consórcios municipais de saúde economizariam com atendimentos mais completos por um custo menor.
O Optometrista realiza cuidados em saúde visual, particularmente a avaliação refrativa e a adequação da correção, sendo o profissional mais indicado para desempenhar ações de saúde desta complexidade. O reconhecimento do problema e a promoção do profissional formado em Optometria têm a capacidade de rapidamente reverter o cenário e impactar os atendimentos de saúde visual.
Como profissional da saúde (não qualificado como médico), o Optometrista é treinado para a detecção, medição e correção de erros refrativos, habilitado a detectar a visão subnormal e a presença de problemas oculares, indicando ao paciente um oftalmologista que conduzirá exames mais aprofundados e oferecerá tratamento. Uma solução simples que pode desafogar o sistema de saúde do país, desde que reconhecida pelos órgãos reguladores nacionais.
*Carlos Eduardo Scarpim Winnikes é professor da Universidade do Contestado e presidente do Conselho Regional de Óptica e Optometria do Paraná (CROO-PR).